Adolescência

Meu pai transportava o aço, futuro gigante do Brasil
Minha mãe atendia os pacientes no posto de saúde
Eu lia os livros de Almeida Garret
Meu irmão dormia,
Enquanto minha mãe me ligava
Oi, O bebê já acordou?
Ao tempo em que ele se revirava na cama
Eu tomava um café forte, café gostoso,
café capixaba
Mudava a página, sentia o orvalho
Catava um mamão papaia no mamoeiro
Que vivia em casa, com a cabeça na casa da minha Avó
Que despertava e dizia: esse mamão está no ponto
E o zelador ia comprar pão,
A dentista também,
Também ia o vendedor de queijo,
A professora,
A minha mãe,
O vidraceiro,
O servente geral,
A balconista,
O engenheiro,
E os pássaros iam buscar os insetos quentinho das árvores
E nutriam-se da aurora homens e insetos,
Na segunda carteira de alguma sala da Figueira de Toledo algum menino
abria o livro pra estudar Geografia
E eu não sabia que a minha vida era melhor que a de Almeida Garret.

Gustavo Monteiro de Freitas